quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Catorze do Doze do Dez

É este o meu Natal. É abrir a porta e ver-vos, tantas, de roda de uma mesa que preparamos com carinho, coberta de doces e chás e leite e bolos caseiros. Todas em conversas alegres, no quente do quarto, sob uma áurea rubra com que esta época festiva é sempre recebida. Desta vez mato efectivamente saudades. Hoje há tempo, há alegria, há boas novas e há futuro próximo. E ver-nos neste conforto amigo é uma das melhores prendas que poderia receber.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Treze do Doze do Dez

Passou mês e meio desde que pousei o saco de papel junto à secretária, depois da festa. Todos os dias me sentei ao seu lado, de costas curvadas e olhos perdidos no ecrã, demasiado inerte para cumprir os requisitos da mente. Porque o conteúdo do saco de papel era conhecido, desejado, mas a inércia impedia a concretização. Hoje foi diferente.
Sem custo, removi o peso da cadeira onde sempre me afundo, mergulhei no saco, que mantém as flores de papel coloridas, e fui preparar o chá de frutas. Trouxe-o na chávena maior do espólio familiar e partilhei-o com os cookies, que se mantiveram deliciosos durante todo este tempo de espera. E regressei à cadeira e ao ecrã do vício. Desta vez, acompanhada por cada uma das pessoas que, naquele dia, me ofereceram este lanche.

Doze do Doze do Dez

É bom regressar cá. Há alguns anos, quebrei com tudo o que tinha para arrumar o furacão que tomara conta de mim. Adiei tudo o resto, em risco de me esquecer dessas porções de mim. Regressei hoje a uma delas.
Recordo a angústia e a desordem desses dias. Precisava dessa fuga e foi lá que repousei. A liberdade de expressão, as roupas largas e as conversas intimas acarinhavam-me e ganhei entusiasmo. Aprendi tanto, mudei de ares e cresci em direcções diversas. Ganhei raízes mais fundas e torcidas, com nós e força, mas, a certa altura, foi preciso parar. Penetrara demasiado fundo e a minha carne não tolerava tanta lama e humidade. Voltei à tona, para respirar fundo, e mergulhei para um lugar diferente, estéril e conciso. E veio o furacão.
Mas faz parte de mim. Ainda me encosto nas camisas largas, nos espaços ocupados e na arte subterrânea. E é reconfortante cá voltar, de braço dado com o furacão domesticado, sentada num matadouro, para ouvir só aquela voz naquela guitarra, sob o foco de luz do projector improvisado. Estamos perto de casa, disseram. É bem verdade.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Um do Doze do Dez

Preciso de vivê-lo. Preciso de ir, sem apoios, sem alguém que ofereça ajuda antes de precisar. Preciso de pisar a calçada e andar até me doerem os músculos. Preciso de me cansar. Preciso de sofrer e de errar. Preciso tanto de errar. Preciso de errar para que compreenda o porquê, que me saiba culpar, que me obrigue a pensar numa alternativa, que me obrigue a encontrá-la e a ser melhor da próxima vez. Preciso que corra tudo mal, que me digam que bem me avisaram, mas preciso de ser a única responsável por tudo. Quero aprender a pescar. Não quero o peixe para nada. Hei-de passar fome, não importa, mas preciso de aprender a pescar.