sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Vinte e Nove do Nove do Onze

Não compreendo bem o que se passou. Quero-te de volta, preciso de ti e de te saber comigo. Tento aguentar-me, como se fosse sólida e determinada, mas és o meu pilar. É por isso que planeio o teu regresso com pedaços de intimidade e mimo, para recuperarmos este tempo em que os pequenos telefonemas nos têm de bastar.
Mas há contrariedades. Há uma realidade à qual não nos podemos esconder. As celebrações serão controladas e a efusividade abrandará. O baque desta circunstância abalou-me, colocara a minha força nesses momentos por vir. Mas é preciso manter-me de pé, relembrar que o que importa é a tua presença. Vou procurar-te no teu olhar, aí teremos o nosso mimo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Vinte e Oito do Nove do Onze

É mentira. Não me faltam homens na minha vida. Lá porque este curso maioritariamente feminino reduz as possibilidades de contacto com alguma testosterona não implica que restrinja os meus contactos sociais ao meu género. Reservo bons amigos.
Como o que me acompanhou nas ultimas burocracias para nos tornarmos médicos a sério. Foi a companhia ideal para encerrar este ciclo, construído com o seu companheirismo e amizade, algo que conservarei destes dias de faculdade.
Ou como o colega dos tempos de infância, que se recorda da minha incrível capacidade de rimar em tão tenra idade. Crescemos, arranjamos emprego, conduzimos um carro, mas as conversas permanecem.
Ou progridem. Juntam-se os amigos de secundário, recordam-se outros tempos, proclamam-se as novidades e brinda-se ao futuro e à vida. E tudo isto num dia cheio de testosterona amigável.

Vinte e Sete do Nove do Onze

Hoje despeço-me. Vou buscar os últimos papéis oficiais da faculdade para que, oficialmente, desligue qualquer obrigação da mesma. Acabou, já ali não pertenço. Porém, ninguém o sabe. Vejo caras conhecidas de outros anos e, essencialmente, caras novas. Vejo as problemáticas de início de ano, as alegria de rever pessoas, as esperanças de quem acaba de chegar. Vejo que a reprografia continua a roubar discretamente. À saída, duas raparigas perguntam-me onde fica a biblioteca. É simples, é só subir até ao sexto andar. Quem diria, saio da faculdade com um sorriso. Passo o testemunho a quem só hoje descobre onde fica a biblioteca. Deixo esses anos para trás e desejo o melhor para quem chega.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Vinte e Seis do Nove do Onze

Não me incomodo com atrasos. Duas horas à espera por uma consulta são toleráveis quando há oportunidade de observar quem chega e parte.
Como a senhora que bufa. Bastou chegar para perceber que não era família de grande paciência. Já de sobrolho desconfiado e gestos esquivos, chega com a sua mãe e já antecipa a demora. Sentada a meu lado, junto à sua mãe, que aguarda um pouco mais conformada, espera atentamente pela chamada no altifalante. Por cada nome que soa e que não corresponde à sua expectativa, bufa. A quantidade e intensidade de ar expirado vai crescendo gradualmente de forma que até eu já desejo que o tal nome seja pronunciado pois começo a recear a minha segurança. Eventualmente, o nome chega. Acabaram-se os bufos, mas eu, que aqui me sentei ainda antes das senhoras terem chegado, permaneço no meu lugar, aguardando pacientemente pela minha vez no altifalante, sem uma única inspiração profunda.
Quase duas horas depois, preparo-me para me exaltar quando, por fim, chega a minha vez. Sou paciente.

domingo, 25 de setembro de 2011

Vinte e Quatro do Nove do Onze

Bastou acordar. Vieste no sonho desta noite e sorrias-me, isso basta. Quis manter a emoção e telefonei. A tua voz mantinha o sorriso e as palavras prometiam conforto. Vou ler o que me escreveste, sim. Fui logo, tu sabes que não consigo esperar muito por saber de ti. E vieste embrulhada na tua carta, com o carinho de sempre, mimando-me pelos longos parágrafos que me dedicaste. Disseste o que precisava de ouvir, sabes bem como fazê-lo. Eu consigo, dizes-me, em letras capitais. E, hoje, meu bem, começo a acreditar em ti. E resultou, sabes?
Hoje consegui. Amanhã conseguirei de novo.

Vinte e Três do Nove do Onze

Não o quero dizer, mas foi aquele momento. Foi quando me disse que me tinha descoberto. Desvio o olhar e procuro não pensar no assunto. É tudo muito pesado, tudo demasiado angustiante para conseguir lidar agora. Engulo em seco, repetidamente, para que não me saia pela boca, pelos olhos, pelo sobrolho franzido sobre a perdição do olhar. Não quero pensar mais para não me recordar do facto de não saber como seguir caminho. Há urgência em seguir de corpo erguido e hoje ainda não o tenho. Respiro fundo, engulo novamente e tento adormecer. Hoje será difícil.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Vinte e Dois do Nove do Onze

Dois meses.

Desprevenida, regredi novamente. Regressei à insegurança e timidez de outros tempos. Por momentos, perdi tudo o que ganhara até hoje e voltei a ficar só no ridículo de não saber o que fazer. Estática, procuro esconder o desconforto em gestos aparentemente inocentes. Finjo ler enquanto a cabeça rodopia e nada vê e nem as mãos se sabem comportar, deixando cair os papéis aos pés de alguém a quem queria ser invisível. Invisível, como, nos outros tempos, tanto receava não ser aos olhos dos despreocupados no caminho. A estranheza estranha-se e o meu incómodo ressalta aos olhos de quem não quero. Assim como o embaraço por me sentir descoberta. E o tempo passa tão devagar quando me sinto atentamente observada. Não o sou, possivelmente, mas a vergonha prevalece e impõe as suas ideias. Não quero esta vergonha de volta a mim, já não sei lidar com ela.
O momento terminou, eventualmente. Regresso ao ambiente que reconheço e sou de novo a pessoa que procurei criar ao longo destes últimos anos. Não sei o que se passou, assusta-me ter acontecido e conto que não se repita. Não consigo.
Estou cansada.