domingo, 3 de abril de 2011

Um do Quatro do Onze

Por vezes, esqueço-me. O tempo passou e julgo que já não terá o mesmo efeito. Mas foi o nome que quis recordar nos enormes headphones, que tão pouco uso lhes dou. E, distraída com outras funções enquanto a música inicia, nem me apercebi do burburinho que se gerou entre os dois auriculares. Reconheço ainda cada momento destas canções. Sei-lhe a voz e a guitarra nos tempos certos, as revoltas e as carícias de cada canção e sei exactamente como o meu corpo quer reagir a cada uma delas. Porque sempre assim foi, porque criei essas reacções ao longo das várias audições naquele tempo que, julgava, já passou.
E é assim que se tem de recordar, isolada do resto da casa pelos enormes headphones, com a volume relativamente elevado e os músculos livres para reagirem criativamente ao som. Como um bom remédio para uma maleita que se arrasta.

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Trinta do Três do Onze

No fundo, quis regressar um pouco àqueles tempos de liceu. Sobraram-me muitas memórias, mais do que aquelas que os amigos da época conseguem recordar em conjunto comigo, e estes momentos foram algumas delas. As guitarras e os pedais, as covers das bandas de sempre e o grupo de amigos que se junta para pular um pouco connosco. A nossa festa. Desta vez, a vossa, à qual não quis faltar, já que o convite tinha sido feito.
Estou um pouco mais leve e permito-me um pouco de diversão. Quis regressar ao pequeno palco. Quis tocar de novo. Mas hoje o momento não era esse, era a vossa música, a vossa alegria, as vossas letras, vozes e guitarras, a vossa canção original e a vossa vontade de mais. E, claro, a esfrega final da guitarra no suporte do microfone, para que não se esqueça o estilo de música que se pretende viver ali.

Vinte e Nove do Três do Onze

Há que começar de novo. E começa-se pelo início, exactamente por aquele início de dia, aquele despertar lento para a consciência das horas que se seguem. Ali, quando o sonho cessa e o baque do real se impõe. Há que acordar, tirar o peso dos pés da cama e segui-los por aí, até ao horário que cumprimos e às responsabilidades a que nos submetemos. É isso, o levantar da cama, o que nos abate.
E tem sido custoso. Não que me faltem muitas horas de sono ou descanso, não é o corpo que se atrasa. É aquele peso que a alma impõe, é a força com que nos empurra de volta ao sono que já não voltará tão cedo, é o desânimo e a inexistência de um motivo feliz para começar um novo dia, que de novo aparentemente pouco tem.
E hoje foi diferente. Hoje, apesar do nervosismo e ansiedade que se impunha, a alma não me quis esconder de novo nos lençóis pesados, não me implorou que o tempo não corresse mais e nos deixasse sós. Hoje sorriu-me, abriu vagarosamente os cortinados para a luz entrar e disse que seria um dia bom. Hoje havia algo novo, hoje estaria algo realmente meu nas horas das tarefas diárias. Hoje seria um pouco mais de mim e menos dos outros. Talvez tenha sido isso.
Fica-me na memória aquele instante, tão díspar de todos os outros, que se repetem há tanto tempo, que me recordou daquilo que realmente procuro e que, confirma-se, me fará tão bem.