domingo, 28 de novembro de 2010

Vinte e Sete do Onze do Dez

Ao descer as escadas, encontro-o. O rapaz, curvado sobre a mesa de esplanada do centro comercial, escrevinha sem parar no seu caderno. Não sabe que ali estou, nem eu, nem mais ninguém, porque se isolou na sua música, contida nos largos phones que ostenta por entre o cabelo longo ondulado. E não abranda no ritmo da escrita livre. Observo-lhe o caderno e as linhas incompletas, como, talvez, se tratasse de um poema. Ou da letra da própria canção que ouve, para desilusão da minha curiosidade alheia. Porque prefiro os poetas, os artistas, os originais que se encontram nos sítios mais inóspitos como um centro comercial verde em dia de jogo perigoso. E assistir à criação de algo novo, mesmo que as palavras sejam frágeis e inconsequentes, é algo único.

Vinte e Seis do Onze do Dez

Queremos acreditar que as memórias são intocáveis. Partilharam-se dias cheios, numa época que já lá vai, e relembro uma viagem em particular, com a companhia do costume, em que se brincou e se riu e se viveu com a alegria da idade. E ficaram-me essas memórias, as felizes, as da cumplicidade e intimidade que tanta importância tiveram naqueles anos. E acredito que não sou a única.
E hoje, junto de algumas das pessoas que me acompanharam nesses dias, relembro algumas peripécias da viagem e não encontro os sorrisos que esperava. É verdade, passaram-se alguns anos, passaram-se algumas peripécias e mal entendidos, mas são boas memórias. Essas. E eu preservo-as porque gosto de regressar ao que tive de bom. Mesmo que, hoje, esteja tudo um pouco diferente. Mesmo que falte aqui alguém para completar o grupo. Não importa, sorrimos todas nesses dias.
Não importa. Hei-de guardá-lo sempre com o mesmo sentimento com que se construiu em mim. Serei mais feliz assim.

Vinte e Cinco do Onze do Dez

De manhã, recebi o sorriso de sempre quando me viu, apertou a minha mão com um pouco mais de força quando tive de sair, quis-me mais tempo com ela. E agora, outra, apertam-me de novo a mão, mas não me quer ali. Chamou pelo doutor, que eu não lhe bastaria, não me olhava, afastava o meu braço com a força que lhe restava, e que ainda surpreendia por ser suficiente para nos enfrentar. Não me quis dizer como a poderia ajudar e não a quis magoar mais, a sua intolerância pela minha presença não ia acabar bem. Chamei quem mais autoridade tem para resolver a situação. Quis ajudar enquanto lhe tiravam o sangue que era preciso. Dei-lhe a mão, para que não fosse estragar o trabalho e magoar-se e para que soubesse que alguém ali estava. Geralmente, sossega. E apertou-me a mão, com as unhas cravadas na minha carne, para que doesse, para que desistisse, para que a abandonasse. Não o fiz. Abracei mais a mão, para que as unhas não conseguissem encontrar de novo caminho para a minha carne, e fingi que a marca que me ficou na pele não fora propositada. Porque, apesar de tudo, não deixamos de ajudar.

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Vinte e Quatro do Onze do Dez

Torna-se demasiado incómodo assim que se torna físico. Acorda-me de noite, enrolado na boca do estômago, sem forma de se libertar. E eu não adormeço tão depressa. E não há posição de alivio. Dói e faz mossa. Há algo de estranho em mim e não o consigo resolver. Não quero acordar para isto.
E mesmo que tenha adormecido de novo, um bom bocado depois de uns socos na dor para a disfarçar, acordo de novo com o mesmo cansaço da mente, o mesmo incómodo nas horas que se seguem porque o sonho fez questão de mo lembrar, repetidamente, durante a noite.
Bastar-me-iam as horas reais.

Vinte e Três do Onze do Dez

Esta é a nossa cidade, mesmo que a nossa vida siga por outros caminhos e exija outras paragens. E é bom celebrá-lo com quem faz parte dela, com quem aprendi a iluminá-la.
É bom revê-la. Há dez anos, escrevíamos às escondidas os nomes das nossas paixonetas num banco do liceu e éramos cúmplices de sonhos adolescentes. Hoje, não lhe falarei do meu coração presente, mas sei que encontro ali a mesma pessoa com que já partilhei tanto. A humildade é igual. O sorriso permanece sincero. O desabafo é feito no mesmo tom, como se fossem apenas umas pequenas férias longe que nos separaram. Temos outra bagagem, outros temas, outras preocupações, mas não são as palavras que importam mas sim a forma como se escutam. E está tudo como antes.
No fundo, é bom voltar a casa.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Vinte e Dois do Onze do Dez

Não é fútil. Ninguém aqui veio apenas para comer ou pôr a conversa ligeira em dia. Seria fútil se fosse mais um jantar fora, onde na mesa longa se resume a discussão à circunferência mais próxima, seguida de noitada, álcool a mais e uma noite exactamente igual às outras. Mas este aniversário é diferente. Estes pratos não são fúteis. Não houve uma encomenda feita à pressa para resolver a situação, houve uma tarde inteira de volta do fogão para nos preparares tudo isto. E eu sei que, enquanto se prepara tanto regalo assim, não se esquece de quem o vai apreciar, daí a algumas horas. Porque há mais nas palavras do convite do que uma simples combinação de encontro. Tu importas, é o que leio. E isso toca e é relevante. Eu venho, mesmo que chova, que o cansaço não se resolva, que a manhã custe a começar depois da viagem de hoje, mas venho. Porque, sabes, tu também importas. Porque é mais do que um aniversário.
E sim, celebramos mais do que a tua existência. Celebramos a nossa. Não preciso de o dizer alto. Porque há sempre um momento em que olho em silêncio e vejo-os a todos, especiais, relevantes, convictos de uma amizade séria que os traz ali, que os leva ao teu abraço, que os leva às palavras amigas. Porque ali estou a partilhar tudo isto contigo. E não há que ter medo da alegria. A existência, a partilha, a vivência, é alegria.
Queria só dizer-to.

Vinte e Um do Onze do Dez

Amanhã é Segunda.
O cansaço dos dias dá de si. É preciso parar, é preciso encolhermo-nos, escondermo-nos em nós, hibernar num tempo parado, o que for preciso para restaurar a paciência e a motivação. As horas sucedem-se, sempre à mesma velocidade compassada, e sei a que distância me encontro do que aí vem. O dia de amanhã. O próximo mês. O próximo ano. A angústia da incerteza de ser capaz. Servirá?
Hoje quero uma noite longa. E acordar longe deste tempo. Por uns dias. É preciso.

domingo, 21 de novembro de 2010

Vinte do Onze do Dez

Recordações em formato digital. Uma limpeza ao disco, que se exige assim que o computador ameaça não aguentar a exigência do trabalho, é o motivo perfeito para mergulhar em memórias empoeiradas. Não que estejam assim tão distantes, mas as prioridades são outras.
Regresso à música de outros países, de amizades criadas noutra língua que não a própria. Recordo o que aprendi e surpreendo-me por manter o espanto e o fascínio por certas melodias. Aprendi muito e é bom recordá-lo. Ainda me irrequieto. E sorrio, sempre.
Ficam as saudades de ter disponibilidade para me perder nestas descobertas. Fica o peso no peito por adiar indefinidamente conversas com quem me deu tanto de novo, com quem quero manter a partilha. Mas fica, essencialmente, a alegria de conhecer tudo isto.

sábado, 20 de novembro de 2010

Dezanove do Onze do Dez

O dia pede um cobertor, um chocolate quente e um bom filme no conforto de casa. Chove. Em Lisboa, o Mundo concentra-se e condiciona a mobilidade de quem não governa. Cede-se o dia para permanecer no domicilio, sem confusões.
Mas ali estamos.
Há chuva, há frio, há distância, há espera, há viagens, e há até, possivelmente, algum aborrecimento no caminho. Mas veio. E ali estamos, em conversas longas, em desabafos precisos, junto ao chá quente e à tosta gigante, no café esvaziado pelo dia feio, ao largo da foz que cheira a mar. Tenho ali a companhia que me falta nesta cidade, de onde fogem os amigos que crescem. E, hoje, fez essa viagem em sentido contrário para aquela partilha de horas da tarde escurecida. E esse gesto não me é indiferente.
Gente amiga. Amiga.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Dezoito do Onze do Dez

Recostada na cadeira de plástico, fuma o seu cigarro. Fala-se da anti-matéria e nada como a Física para lançar a discussão filosófica da pausa do almoço. Ela tem muitas ideias, porque acredita em algumas coisas e questiona outras. A ciência não é, vai-se fazendo, diz. Fala-nos de Galileu. O bico do pé, na ponta da perna cruzada, completa a pose. O sapato com traços característicos de muito uso, conserva a flor gasta no topo. O café bebe-se vagarosamente, para sorver bem o calor da conversa. A Matemática, que tudo prova, mais cedo ou mais tarde. Não há sol para nos cair no rosto de quem tem algo sério e belo para dizer, o Inverno já se pôs a caminho. Inevitavelmente, caí-se na tentação da Medicina, das histórias bizarras de consultório, e logo nos pomos a caminho, de volta à urgência, para mais umas horas de banco. Fim de pausa.

quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Dezassete do Onze do Dez

Dói. A impotência pesa e a distância amplifica. Acompanho-te neste cubículo, pelas palavras que te envio e que não cavam tão fundo assim. Quero ser suficiente, mas não o sou. É algo mais profundo, algo que não consigo alcançar, que não consigo cortar-lhe a raiz e queimá-lo, longe de ti para que nem o fumo te recorde do que foi. Tu conhece-lo bem, sabes como te consome e dizes-mo porque voltou e não quer sair. E eu oiço, impotente, com as mãos cravadas nessa sombra, para que a afaste de ti. Não a consigo agarrar, não lhe conheço as pontas soltas. E dói. Porque te dói. E não o sei estancar.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Dezasseis do Onze do Dez

Aproxima-se a passos largos a hora de ir embora e, portanto, é necessário pôr em prática o esquema de sempre. Se calhar é melhor não ir já, senhor doutor, estou aqui com uns suores no ombro esquisitos. Não serve, aparentemente estes suores não assustam. Será que já viram o exame que fiz ontem? É que ainda tenho uma dor aqui por baixo, não é boa ideia ir já para casa. Parece que não me vai incomodar afinal... Mas não posso ir para casa, está cheia de pó, não vou lá há um mês. E hoje vai estar muito frio, vão estar dois graus à noite, e se eu apanho frio fico pior. Não posso sair daqui só com este casaquinho de fazenda, é muito fininho, e ainda por cima tenho de levar qualquer coisa na cabeça, eu apanho muito frio! Nem assim?... Tenho de ir para casa da minha filha? Bem... mais uma noite de fumo não me há-de fazer mal... Se acontecer alguma coisa, acontece...
E, por fim, ao final da tarde, teve alta.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quinze do Onze do Dez

Veio à sua consulta, o senhor J. De olhar simpático, postura composta, conta pausadamente das dores que mantém, dos dias que vive só em casa. Usa palavras aprumadas, cuidadosamente colocadas nas frases, de caligrafia bonita e em velocidade de cruzeiro. Um embalo.
Porque o senhor J. esteve na guerra do Ultramar. Viveu muito lá, traz outras mazelas e agora é para isto que a vida o reservou, depois de tanta vida naquela guerra. Não é o primeiro que traz a sua história de África, trazem-na todos, cicatrizada nas palavras ao doutor, que trata as dores dos velhos.
O senhor fuma? Não senhor. Com o compasso vagaroso, continua. Nunca fumei, nunca me emborrachei e nunca recorri aos serviços pagos de uma senhora. Sou, portanto, aos olhos do típico homem português, um mariquinhas.

Catorze do Onze do Dez

Chegar a casa e ter um céu à nossa espera. A nuvem gigante, crescendo na minha direcção, com o sol a iluminar as bordas esfarrapadas, e o negrume central, para que não sejamos cínicos. A luz de fim de dia em contornos visíveis. A nuvem que tapa e que revela. Bem vinda de volta. O peito sossega, por fim, e tira-se a fotografia, antes que o sinal fique verde.

sábado, 13 de novembro de 2010

Treze do Onze do Dez

Hoje fico cá dentro. Hoje não conto. Hoje fica-vos o ruído de fora e a impossibilidade da fuga como único cenário. O resto, é cá de dentro. O resto criou-se neste contexto, cresceu depressa e manteve-se preso em cada gesto durante algumas horas. E é isto.
É a angústia de sempre por ser sempre assim. É a revolta que não se revoluciona porque é sempre assim. Sempre será. O tempo já passou e resta conter a revolta. É a fragilidade perante um tom, mesmo que as palavras não sejam suficientemente maliciosas. É a incompreensão. E é a compreensão, clara como não a querem mostrar, e a dor que traz com ela.
A Angústia do sempre para sempre.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Doze do Onze do Dez

Depois de algumas horas na solidão e silêncio da casa, o telefone tocou. Era a segunda vez neste início de noite e, pelo número que surgia no ecrã, alguém me esperava em Lisboa. Lembrei-me do telefonema combinado, de fixo para fixo, algumas horas antes. Sorri. Vai saber mesmo bem uma conversa amiga. Atendo.
Estou?
Boa tarde.
Não reconheço a voz, foram poucas as palavras, mas deve ser ela, no seu jeito singular de cumprimentar respeitosamente o interlocutor. Não me contenho, então, na alegria das saudades por matar.
Olá!
...Pois. Isstou fálando para casa do sinhô *meu pai*?
Pois não era. Um telefonema formal. Um serviço que pretende saber se já adquirimos o seu produto, se está tudo em ordem, ora então muito boa tarde, com sua licença.
O riso ecoa sozinho no corredor cá de casa. Duvido que, lá do outro lado, esperassem tamanho entusiasmo no cumprimento ao seu telefonema protocolar. Pode ser que se ria também, depois da ligação terminada.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Onze do Onze do Dez

Eu quero ouvir, mas perco-me. A viagem de carro, quando não depende das minhas mãos, é uma fuga. Sempre do lado direito, encostada ao vidro da janela, olho enviesada para fora. Para onde não me vêem, porque aqui vou dentro, onde posso observar, onde posso não observar, onde posso esconder-me em mim, regressar ao casulo da mente que pouco pára. A fuga para o refúgio interior é automática, difícil de contrariar e, por vezes, perco-me das conversas cá de dentro, fora de mim, mas contidas no automóvel.
Eu quero ouvir, quero mesmo. Mas oiço o início, compreendo o tema e, assim que os olhos fogem, a atenção foge e já não estou ali, já quero o silêncio e a solidão de sempre. E deixo-o, no silêncio do seu monólogo, na solidão que não desconfia.
O que me vale é a eterna repetição da mensagem. Consigo, por enquanto, regressar a tempo de ouvir a conclusão do tema e compreender, apesar de tudo, a resposta que me pede.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Dez do Onze do Dez

Ora, quem é que vai atender o belíssimo número três dois três?
Estamos em Lisboa, no correios, mesmo no centro da cidade, onde o trânsito se solavanca e os peões se repelem. O frio chegou e o humor agrava. Ao entrar, assisto a um sprint renhido até à máquina das senhas, não há tempo a perder. E, aqui, um senhor interrompe a frieza de sempre.
Vá lá, que tenho o carro mal estacionado.
O sorriso parece propagar-se para os funcionários do outro lado da banca.
Para quê tanta pressa? Não temos nada a ver com isso!
A espera não o aflige, afinal, vai ser atendido já a seguir. De pasta na mão, mantém a voz jocosa e o tom elevado.
Ah! Quem foi que chamou pelo número três dois três? Ali está, sete!
Talvez o funcionário do balcão sete prefira a sobriedade no local de trabalho, talvez seja desta que a capital caia de novo, fria, sobre a sala.
Você a mim não me vai vender nada!
O sorriso é recíproco, afinal a boa disposição é bem vinda. Afinal há mais vida por aqui. Talvez este inverno não seja tão rigoroso.

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nove do Onze do Dez II

Há dias em que é a imagem que fica. Ficaste-me tu hoje. Ficou o teu pijama que já foi mais rosa do que agora, com cachorrinhos e corações, a fita negra na cabeça, os óculos prontos para umas horas de estudo neste início de noite e a cama, aberta, à tua espera. Mas o sorriso é maior pelo que seguras, neste instante, na tua mão. O livro, sério, académico, trabalhoso, e por baixo, prestes a entrar em acção, o conjunto de canetas de feltro de uma imensa colecção de cores, qual menina pequenina, como a que vejo em ti tanta vez.
Única.

Nove do Onze do Dez

Ao computador, adormecida no teclar rotineiro, o pé direito reconhece aquele início. Rapidamente, o início torna-se música concreta e o reconhecimento sobe pelo membro acima, propaga-se para o outro e não tarda ao movimento sincronizado apegar-se ao ritmo do rádio. Que saudades deste som. O calcanhar marca o passo e aproxima-se a guitarra que tanta vez soou, vezes e vezes sem conta, num quarto vazio para a expressão livre do corpo. As sobrancelhas não sobrevivem ao ataque acústico e contorcem-se, juntamente com os lábios que ensaiam em silêncio o solo que se segue. Ai, as mãos, últimas resistentes, em trabalho no teclado inerte, cedem por fim. O batuque pessoal sobre a mesa impõe-se. Porque esta música é viva e há que a viver. Porque é por estes segundos de êxtase que ansiava. O corpo quer vivê-lo, ali, naquela cadeira, em frente ao ecrã!
"Doutora, desculpe... Sabe onde foi a Dra. Rita?"
E assim se acorda. Juízo, isto é uma enfermaria, há aqui senhores doutores a trabalhar, a salvar vidas. Há gente séria que faz perguntas a gente que espera ser séria. É importante guardar para mais logo este momentos solitários. Vá. Ao trabalho. À seriedade. Juízo, sim.
Ai, mas aquela guitarra...!


segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Oito do Onze do Dez

Nono dia de internamento. O sofrimento aumenta e o desânimo apodera-se do olhar. Pergunto como se sente e, na imobilidade da cama e dos lençóis que descobrem o peito nú, fala-me da diarreia que tem, de como se sente suja. Digo que vou chamar alguém para a ajudar e agradece com a doçura que nunca perde. Obrigada, minha querida. Volto já. Antes que parta, alcança-me o braço, ali tão perto como tem de estar, e sussurra algo que não compreendo. Aproximo-me, quero ouvir. E repete-mo.

Não me deixem morrer.

Um sorriso, uma mão na sua, e umas (poucas) palavras que procuram dar-lhe o conforto que não sente neste momento, são tudo o que consegui encontrar em mim para lhe oferecer. Mas o pensamento na cama 20 prolonga-se durante as horas que se seguem.

domingo, 7 de novembro de 2010

Sete do Onze do Dez

O peito afundara na noite anterior e o sonho levara-me de volta. Quis acordar longe e em tempo incerto. Mas acordei ali, a teu lado. Já desperta, observavas-me em silêncio, atenta, imóvel, dedicada. Surpreendi-me, não esperava os teus olhos grandes em ronda por mim, o teu sono geralmente prolonga-se um pouco mais, mas não tardei a serenar. Eras tu. Cuidavas. Conhecias o peso cá de dentro e aguardavas por notícias do fundo. Estou melhor, sim. Afinal não quero acordar longe. Estou protegida aqui. Contigo.