quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Onze do Onze do Dez

Eu quero ouvir, mas perco-me. A viagem de carro, quando não depende das minhas mãos, é uma fuga. Sempre do lado direito, encostada ao vidro da janela, olho enviesada para fora. Para onde não me vêem, porque aqui vou dentro, onde posso observar, onde posso não observar, onde posso esconder-me em mim, regressar ao casulo da mente que pouco pára. A fuga para o refúgio interior é automática, difícil de contrariar e, por vezes, perco-me das conversas cá de dentro, fora de mim, mas contidas no automóvel.
Eu quero ouvir, quero mesmo. Mas oiço o início, compreendo o tema e, assim que os olhos fogem, a atenção foge e já não estou ali, já quero o silêncio e a solidão de sempre. E deixo-o, no silêncio do seu monólogo, na solidão que não desconfia.
O que me vale é a eterna repetição da mensagem. Consigo, por enquanto, regressar a tempo de ouvir a conclusão do tema e compreender, apesar de tudo, a resposta que me pede.

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