segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Quinze do Onze do Dez

Veio à sua consulta, o senhor J. De olhar simpático, postura composta, conta pausadamente das dores que mantém, dos dias que vive só em casa. Usa palavras aprumadas, cuidadosamente colocadas nas frases, de caligrafia bonita e em velocidade de cruzeiro. Um embalo.
Porque o senhor J. esteve na guerra do Ultramar. Viveu muito lá, traz outras mazelas e agora é para isto que a vida o reservou, depois de tanta vida naquela guerra. Não é o primeiro que traz a sua história de África, trazem-na todos, cicatrizada nas palavras ao doutor, que trata as dores dos velhos.
O senhor fuma? Não senhor. Com o compasso vagaroso, continua. Nunca fumei, nunca me emborrachei e nunca recorri aos serviços pagos de uma senhora. Sou, portanto, aos olhos do típico homem português, um mariquinhas.

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