terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nove do Onze do Dez

Ao computador, adormecida no teclar rotineiro, o pé direito reconhece aquele início. Rapidamente, o início torna-se música concreta e o reconhecimento sobe pelo membro acima, propaga-se para o outro e não tarda ao movimento sincronizado apegar-se ao ritmo do rádio. Que saudades deste som. O calcanhar marca o passo e aproxima-se a guitarra que tanta vez soou, vezes e vezes sem conta, num quarto vazio para a expressão livre do corpo. As sobrancelhas não sobrevivem ao ataque acústico e contorcem-se, juntamente com os lábios que ensaiam em silêncio o solo que se segue. Ai, as mãos, últimas resistentes, em trabalho no teclado inerte, cedem por fim. O batuque pessoal sobre a mesa impõe-se. Porque esta música é viva e há que a viver. Porque é por estes segundos de êxtase que ansiava. O corpo quer vivê-lo, ali, naquela cadeira, em frente ao ecrã!
"Doutora, desculpe... Sabe onde foi a Dra. Rita?"
E assim se acorda. Juízo, isto é uma enfermaria, há aqui senhores doutores a trabalhar, a salvar vidas. Há gente séria que faz perguntas a gente que espera ser séria. É importante guardar para mais logo este momentos solitários. Vá. Ao trabalho. À seriedade. Juízo, sim.
Ai, mas aquela guitarra...!


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