domingo, 30 de janeiro de 2011

Vinte e Quatro do Um do Onze

Ela já sabia o que poderia ter. São muitos suores e não consegue dormir há três dias e ela foi ver à internet. Fez até uma lista que trouxe para ler ao senhor doutor. Ora veja, insónia, sudorese, palpitações - ai o meu peito! -, olhos salientes - e abre muito os olhos para podermos confirmar - é tiróide! Mais do que todos os sintomas que descreve, o que maior evidência tem para nós é a energia e a conversa inesgotável. Relembra a menopausa, mas que não se assemelha ao que sente agora, e ainda ontem falou ao telefone com o meu filho, de quem tem tantas saudades, como nos diz no pequeno instante em que, repentinamente, se esconde atrás da mão para chorar meia lágrima, pois não há tempo a perder, a conversa ainda agora começou. Mede-se a pressão arterial e ali fica, com um braço despido e o peito descoberto, que refere orgulhosamente andar sem apoio, que é assim que agora sabe bem, enquanto mantém a verborreia incansável.
É preciso terminar a consulta e o médico levanta-se para dar o mote da despedida. Não importa. Sentada, ignora o gesto e mantém as queixas, as suas suspeitas, os seus queixumes e os seus elogios grandiosos ao médico, de que tanto gosta. Reafirma-se a despedida, desta vez verbalmente. Está na hora. Levanta-se por fim e prepara tudo para sair. Boa tarde, então, proteja-se do frio. Oh doutor! É por isso que trago esta camisola, é muito quente, por aqui não entra frio nenhum, é de.. ai.. como se chama.. caxemira, não é?

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